sexta-feira, 29 de abril de 2022

O Sumiço de Analice

Em 2020, em plena pandemia mundial a cidade de Resende vê surgir uma luz de felicidade, uma chama de alegria que queimaria forte, mas, infelizmente, se apagaria cedo. Assim foi Analice Rodrigues Mattos, uma jovem resendense, na época com 18 anos, moradora do bairro Elite. Aparece surpreendentemente nas redes sociais como um furacão, encantando a todos, tanto com seu jeito leve e poético como com sua beleza e, principalmente, com sua voz. A jovem começa a fazer suas postagens ainda na janela de seu quarto, fotos, vídeos e música. Seu Instagram, Twitter, Facebook ou Tiktok tornam-se parada obrigatória para o internauta do Vale do Paraíba. Sua alegria contagiante e sua beleza são um suspiro em meio ao caos e o medo que rondam esses tempos de pandemia.

Letra de "Meu Sol" postado no
Instagram de Analice

Em 5 de Outubro de 2020 a moça posta seu maior sucesso, a música “Meu Sol” de com posição própria. Ela já havia postado muitos vídeos cantando, tocando violão ou teclado, mas sempre eram versões de músicas famosas, essa foi a primeira composição própria que Analice postou, e seu publico respondeu a altura, o numero de seguidores da jovem resendense aumentou exponencialmente com a postagem, foi motivo até de reportagem na teve e os jornais locais.  A música é agradável, leve, jovial, como a própria autora, de melodia suave e com letra curta, mas com uma poesia sem igual, um amor, com vontade de viver. Na reportagem dada ao tradicional jornal Tribuna do Vale, Analice diz que a letra da música representa “o sentimento de um amor a primeira vista”.

A sensação que foi Analice Mattos atraiu a todos, inclusive quem não deveria.  Pouco tempo após o sucesso de “Meu Sol”, a jovem foi contata por Hugo Alvarez Gusmão, 20 anos, também resendense, morador do bairro Cabral e, supostamente, membro do crime organizado da região. Flores, demonstrações públicas de afeto e em menos de dois meses os dois não só estão namorando, como já estão morando juntos. O conteúdo da jovem continua o mesmo, talvez até com mais postagens do que o normal, mostrando a mudança, a casa nova e, por vezes, o namorado e sua rotina juntos, sempre embalado por músicas e recheados de presentes de fãs e recebidos de lojas e empresas querendo 15 minutos com a nova “Musa do Vale”. Mas aí vem o réveillon. O casal faz um streaming de ano novo, pois passaram a virada em casa por conta da pandemia. O rapaz aparece claramente alterado e contrariado durante toda a transmissão, que é termina cedo, meia hora após a virada, e com ar de discussão, com Hugo dizendo ao fundo: “...tanta grana, a gente podia ta viajando, aproveitando, mas tu quer fica aqui, nessa merda, com esse monte de punheteiro que só querem é te comer. tu é uma puta mesmo...”. O vídeo dessa stream nunca foi para o Youtube ou mesmo é acessível para os seguidores de Analice no Twitch, o que restou dessa noite é a lembrança e a falta que Analice fez por toda semana seguinte.

Uma semana inteira de silencio, pela primeira vez desde que começo suas postagens, Analice some por uma semana e quando retorna, nota-se claramente que tem um olho um pouco inchado e alguns vergões pelo corpo. A jovem afirma que após o réveillon, ela e Hugo decidiram fazer um passeio de bicicleta até Pedra Selada, que fica em torno de 18 quilômetros ao norte de Resende e que durante esse passeio ela sofrera uma queda de bicicleta, por isso estaria em tal estado. Muitos dos fãs da moça não acreditam nessa história, principalmente pelas mudanças em suas postagens que começaram a ocorrer logo após esse incidente, as postagens mais provocantes, como fotos de biquini, vídeos dançando vestindo shorts mais curtos ou camisas com decotes diminuem consideravelmente, assim como o tempo dos vídeos cantando também diminuem, ao mesmo tempo Hugo passa a aparecer cada vez mais, inclusive fazendo vídeos onde Analice só aparece ao fundo. E esse seria só o primeiro de seus sumiços.

Em abril do mesmo ano Analice faz uma postagem em seu Twitter anunciando que em junho faria seu primeiro show, seria em Paraty e ela estaria representando uma marca de roupa famosa. A partir desse momento, há um aumento nas postagens de vídeos cantando e uma diminuição das aparições de Hugo. Mas, um tempo depois, novamente, a jovem desaparece das redes sociais e só retorna após duas semanas a seu Twitter dizendo ter sofrido um acidente de carro e pedindo desculpas a seus fãs pois não mais fará a apresentação em Paraty. É aqui que o mistério de Analice realmente começa, a partir desse momento não há mais nenhuma postagem cantando, novas postagens mais provocantes também cessam, sendo resumidas unicamente a repostagem ou a fotos antigas ainda não postadas, sua presença nas redes sociais se restringe a vlogs conversando com seu público e a postagens no Twitter. Coisas importantes a se notar, a jovem torna-se muito mais séria e até um pouco triste ou doente e sua voz torna-se mais arranhada e fraca a cada postagem. Em um vídeo é possível notar um vergão em seu pescoço, que até é comentado por alguns fãs. Seu público, por várias vezes suspeita que ela está sendo vítima de violência doméstica, mas a própria Analice afirma não ser o caso. E em 2 Junho de 2021 Analice Mattos faz sua ultima postagem, um breve “boa noite”, a partir do dia seguinte, só silencio. Em pouco tempo seu pai, o único membro vivo de sua família dá parte a polícia acusando Hugo de ter matado sua filha,  Analice é dada como desaparecida. Hugo é investigado como suspeito, mas não é condenado por falta de provas. Já faz quase 1 ano que a Musa do Vale se calou, nada, nenhuma evidência, nenhum vestígio fora encontrado.

A aqui paira o mistério, onde foi parar Analice?


quinta-feira, 14 de abril de 2022

Cidade da Alegria, Um Histórico Tumultuoso

Apesar do nome de "cidade", a popularmente conhecida “Cidade da Alegria” é, na verdade, um conjunto de bairros de Resende, constituída por Cidade Alegria, Alegria, Alegria 2, Nova Alegria, Jardim Alegria e hoje, dependendo do interlocutor, podendo incluir também os bairros que circundam a avenida Francisco Fortes Filho, que desemboca no Acesso Oeste da cidade, esses incluem, mas não estão limitados a Primavera, Vila Izabel, Toyota 1 e 2, Morada do Contorno, Morada da Montanha, Jardim Aliança 1 e 2, Mirante da Serra, Boa Vista 1 e 2.

Mapa Cidade da Alegria
São bairros mais afastados do centro tradicional de Resende, e ocupa praticamente toda a ala leste urbanizada do município fazendo jus ao nome, sendo praticamente uma cidade dentro da cidade. Esse conjunto de bairros surgiu a partir de um complexo habitacional, e hoje tem facilmente mais de 45 mil habitantes.

A Grande Alegria foi o conjunto que originou todo o complexo, na época, fora recebido com certo olhar de desconfiança, por dois bons motivos: pela distância do centro da cidade - cerca de 12 quilômetros - e pela falta de infra-estrutura, como energia elétrica, ruas pavimentadas e de linhas de ônibus que o interligasse a outros pontos de Resende. Mas, de uns tempos para cá, onde reinava o medo e a insegurança, apesar dos problemas inerentes a qualquer área periférica densamente habitada, o lugar transformou-se numa verdadeira cidade dentro de Resende, oferecendo boas condições de moradia a seus moradores e adjacentes. O bairro rapidamente adquiriu agência bancária, supermercado, padarias, bares, restaurantes, igrejas, farmácias, armarinhos, casa lotérica, clínicas médicas, unidade de saúde pública, escolas, postos de gasolina, posto policial, áreas de lazer, fora os prestadores de serviço.

Jornal Ponte Velha - 2020
Porem a violência, problema típico dos grandes centros urbanos, também deixou marcas no complexo Cidade Alegria que até hoje não foram apagadas. Uma delas, foi a onda de execuções de bandidos, no final do anos 80, possivelmente realizada por um grupo de extermínio. Outro acontecimento foi em 95, o Caso dos Containeres, que também mexeu com toda a região. Muito explorado pela crônica policial da cidade, porém hoje fora esquecido. Naquele ano, três rapazes também foram executados a tiros e os corpos encontrados dentro de um container num campo de futebol, no bairro Itapuca. O caso repercutiu em todo o país. Foi condenado pelo crime um vereador do município, tido como o justiceiro da Grande Alegria. Além da famosa Zona do Medo, que é a zona quente da Alegria, e o lado mais favela do bairro, fica localizada do bloco 35 ao 49 do antigo complexo, podendo ser encontrados ali bandidos caminhando livremente, armados, e bem organizados, travando a eterna guerra civil e de influencias com as facções dos bairros Alvorada e Paraíso, que apresentam aspectos bem parecidos com a Cidade da Alegria, apesar de serem bem menores e terem um significado histórico diferente para cidade, o poder de fogo do seu trafico é equivalente.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

O Mistério da Matriz

Matriz em Chamas - 1945
A Igreja Nossa Senhora da Conceição, popularmente conhecida como Matriz, teve sua construção finalizada em 1812, e desde então é um ponto marcante na paisagem resendense. Mas em 22 de Agosto de 1945, uma grande tragédia recai sobre a igreja, um incêndio destrói a centenária Matriz. Após duas horas, restam apenas a fachada e a parede lateral externa da ala esquerda. Alguns acreditam que o incêndio foi provocado intencionalmente, visto que esse era o segundo a acontecer em menos de 10 anos. Um boato de que o fogo fora colocado para "extinguir um grande mau" que havia pairado sob a Igreja corre na boca pequena por toda cidade.

No dia 21 de agosto de 1954, foi solenemente consagrada a Matriz reconstruída após o incêndio. Segundo relatos da época: 

Eram oito horas da manhã. As irmandades e os demais fiéis estavam reunidos na praça Dr. Oliveira Botelho (frente a Matriz). O bispo, Dom José André Coimbra, acompanhado por sacerdotes e seminaristas de Três Poços, em Volta Redonda, inicia a celebração com orações à porta principal do templo, que se mantém fechada. Ao término destas, contornam a igreja por três vezes, aspergindo com água benta as paredes e batendo à porta, toda vez que por ali passava. O povo permanece na praça enquanto Dom José Coimbra e os demais sacerdotes entram para a cerimônia no interior do templo. A Igreja vazia, sem bancos, no chão, uma grande cruz de cinzas, o Bispo escreve aí os alfabetos grego e latino e benze as paredes internas. É permitida, então, a entrada dos fiéis a fim de participar do final da sagração, que consistiu na unção das 12 cruzes, colocadas cada uma ao lado de um altar e a Santa Missa. 
A consagração da igreja Matiz, por aqueles que lembram desse acontecido, perdido nos anais da memória da cidade, é vista com estranheza, fato que reforçou a crença de que algo de muito ruim tinha acontecido ali além do incêndio.



Até hoje a Matriz é um ponto importantíssimo da paisagem resendense, imponente no alto de seu morro e tocando seus sinos de bronze a cada hora do dia. Mas o que se perdeu dessa história é: O que causou o incêndio? Porque um processo de sagração tão elaborado, até onde se sabe, ninguém se feriu? Onde foram parar as 12 cruzes?

O Mistério dos Devoradores de Gente do Vale do Paraíba

Este ano marca o aniversário de 15 anos de um grande mistério esquecido pela região, o mistério dos devoradores de gente do vale do paraíba. 

Estrada da Limeira
Em 2007, há 15 anos atrás uma onda de desaparecimentos iniciou-se em janeiro e perdurou por praticamente o ano todo, na sua grande maioria moradores da zona rural da cidade, alguns moradores de rua e até um casal de jovens que fazia uma trilha de bicicleta. Todos desaparecidos em algum ponto da Estrada da Limeira. A princípio esses desaparecimentos foram tratados como eventos isolados, um marido que fugiu de casa, uma criança que se perdeu na mata, um mendigo que sumiu. A polícia local só realmente fez a ligação entre os desaparecimentos quando partes das vítimas começaram a aparecer novamente.

Na manhã do dia 4 de Abril foram encontrados três braços, um pé, e parte de um tronco humano boiando no rio Sesmaria na altura do que hoje é o Condomínio Bosque Limeira. A polícia foi acionada e buscas foram iniciadas. Por cerca de três meses operações policiais foram realizadas por toda a extensão do Rio Sesmaria, mas nada foi encontrado e tão pouco noticiado.

O que torna essa história mais misteriosa é o fato de, em um período de um ano, encontraram partes de corpos de cerca de 28 pessoas no Rio Sesmaria ou nas redondezas da Estrada da Limeira. Todas as partes encontradas estavam mutiladas, com claras marcas de mordida (eu até tenho fotos, mas são de conteúdo extremamente gráfico, não acho que seria de bom tom postá-las aqui), e quase nada veio a mídia, e o que veio, rapidamente fora esquecido pela população, tal qual o antigo Caso dos Contêiners.

Após uma incessante busca, o único relato concreto que encontrei fora uma pequena matéria do jornal Tribuna do Vale:

Tribuna do Vale - Junho de 2007

Mas seria esse um fato isolado? E porque eu estaria aqui escrevendo sobre algo tão trágico após 15 anos? Meus amigos, é porque eu acho que vai acontecer de novo! Se segurem em suas cadeiras porque nós vamos voltar para 1992. Sim, 1992, 15 anos antes de 2007, ano esse que também houvera um surto nos casos de desaparecimento na mesma região. Não há relatos de partes de corpos humanos sendo encontrados, mas há sim um aumento considerável de desaparecimentos naquele ano. Eu aposto que se pesquisarmos bem descobriremos que em 1977 e em 1962 os casos de desaparecimento também foram mais altos. E sabe do que mais? Em 1947, 15 anos antes de 1962, o corpo de Maria Rita Conceição foi encontrado semi devorado por um animal selvagem, adivinha onde, nas margens do Rio Sesmaria, próximo a estrada da Limeira.

Mas a maior pergunta é: O que seria isso, meus amigos? Uma animal selvagem que só ataca a cada 15 anos? Um culto satânico? Ou será que as lendas de antropofagia em relação aos índios Puris são verdade e agora seus descendentes estão  se vingando...


segunda-feira, 11 de abril de 2022

História de Resende

 Resende era habitada originalmente por índios puris, que a chamavam Timburibá. Em 1744 coronel paulista Simão da Cunha Gago conseguiu autorização da Coroa portuguesa para desbravar a região em busca dessas riquezas. Nessa empreitada, chegou à região da atual Resende, dando ao povoado o nome de "Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova". A descoberta de ouro e diamantes no século XVIII nas capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais foi muito beneficiária para Resende, devido sua localização central entre esses territórios, ajudando em seu rápido desenvolvimento. 

José Luís de Castro, o Conde de Resende
Em 29 de setembro de 1801, o povoado torna-se a "Vila de Resende", nome dado em homenagem ao Conde de Resende, então vice-Rei do Brasil. Com a expansão da cultura cafeeira no século XIX, a Vila de Resende passa por significativo crescimento. Vários sobrados foram construídos nessa época, sendo o primeiro deles o de Benedita Gonçalves Martins, conhecida como a "Rainha do Café". Devido à expansão econômica, e com uma população de cerca de 19.000 habitantes (sendo aproximadamente a metade constituída por escravos), a Vila de Resende foi emancipada à condição de cidade em 13 de julho de 1848 pela Lei Provincial n.º 438. Seis distritos integravam o recém criado município: Cidade, Campos Elíseos, Bom Jesus de Sant'Ana dos Tocos (que acabou submerso pela represa do Funil), Boa Vista (atual Engenheiro Passos), Santo Antônio da Vargem Grande e São Vicente Ferrer (atual Fumaça).

O café era o principal produto da região, tendo destaque a ilustre Fazenda Guapará da família Guimarães, que em meados de 1850, quando a produção cafeeira começava a perder o vapor, produzia com seus misteriosos métodos, o que é considerado o melhor café do país, conhecido mundialmente e apreciado até pela nobreza britânica. A princípio o café seria transportado no lombo de burros para o Porto de Angra dos Reis, percurso que demandava cerca de oito dias, o que levou ao início da navegação pelo rio Paraíba. Eram utilizadas mais de sessenta barcas, que levavam o café até Barra do Piraí. Nessa cidade era feita a baldeação para os trens da Estrada de Ferro D. Pedro II, que seria depois a Estrada de Ferro Central do Brasil. Os trilhos da estrada de ferro chegaram a Resende em 1873, levando ao fim do transporte do café por via fluvial. As riquezas provenientes da produção de café transformaram a vida da cidade. Não apenas o aspecto físico das edificações, que passaram a ser mais urbanizadas e menos rústicas, mas também os costumes e estilo de vida da aristocracia local tornaram-se requintados. Passa-se a importar seda porcelana da Europa, os filhos dos fazendeiros começam a aprender inglês e francês, indo depois estudar no exterior.

A partir de 1850, o tráfico de escravos foi proibido e a mão de obra nos cafezais tornou-se dispendiosa. Além disso, a partir de 1870 as terras passaram a ser menos produtivas, pelo excesso de utilização. No final da década, vários cafeicultores vão para o Oeste Paulista, região da atual Ribeirão Preto, onde havia boas perspectivas para a produção. Todos menos a família Guimarães, que continuava firme com sua produção e com seus funcionários assalariados. Com o êxodo das famílias, as terras resendenses passaram a se desvalorizar, atraindo emigrantes vindos de Minas Gerais, que se instalavam com seu gado nos cafezais abandonados. Iniciava-se assim o ciclo da pecuária na região, levando Resende a produzir um terço da produção leiteira e ser o segundo produtor de queijo e manteiga do estado, no início do século XX. Na década de 1940 tem início a industrialização de Resende, sendo implantada também nessa época a Academia Militar das Agulhas Negras. Com a inauguração da rodovia Presidente Dutra no início dos anos 50, acentua-se a expansão industrial da cidade.

Em 1932 Resende e região foi palco para conflitos da Revolução Constitucionalista, o então presidente Getúlio Vargas chegou até a se refugiar na cidade por algum tempo. O distrito de Engenheiro Passos é criado e anexado ao município de Resende pela Lei Estadual n.º 1.695, de 26 de setembro de 1952. Em 1968 é Finalizada Represa do Funil, que alimenta a malha energética de boa parte do Sul Fluminense e que vem inundar a já esquecida e misteriosa Freguesia de Nosso Senhor Bom Jesus do Livramento de Sant'Anna dos Tocos. E em 6 de julho de 1988, pela Lei Estadual n.º 1.330, parte dos distritos de Engenheiro Passos, Agulhas Negras e Itatiaia são desmembrados de Resende para formar o município de Itatiaia. Pela Lei Estadual n.º 2.494, de 28 de dezembro de 1995, é criado o município de Porto Real, distrito desmembrado de Resende.

Fazenda Guapará

Escondida na serra ao sul de Resende, a fazenda Guapará, refletia o desejo de seu fundador de ter um lugar tranquilo e pouco acessível para poder cultivar o melhor café já visto no estado do Rio de Janeiro. Tinha cerca de 3.300 alqueires, com apenas 56 funcionários, é um mistério até hoje como ela produzia a quantidade de café exportada. O café Guapará era conhecido e almejado por muitos, desde membros das altas rodas da política brasileira a membros da nobreza britânica.

Foto de Dom Martim Vaz Guimarães
A propriedade era dividida em quatro grandes seções: O casarão principal, a vila dos agricultores, a fábrica e o território de plantio, possuindo no total cerca de  150 edifícios, destinados à casa dos funcionários, máquinas de café, pequenas oficinas, depósitos e, é claro, o casarão sede. Havia cerca de 70 casas na vila de funcionários de Guapará, era como uma pequena cidade, com farmácia, uma escola ítalo-brasileira, mercearia e leiteria, capela e um pequeno cemitério, entre as décadas de 40 e 60 havia até um médico exclusivo da fazenda que atendia tanto os funcionários quanto os membros da família.

A propriedade foi adquirida em 1850 por um dos últimos homens ainda considerados fidalgos portugueses no Brasil, Dom Martim Vaz Guimarães (1811-1914), a construção da casa-sede iniciou-se prontamente e fora ser finalizada em tempo recorde, apenas 3 anos mais tarde, Guapará estava pronta para exportar suas primeiras sacas de café. Sabe-se que por cerca de 16 anos fora administrada pelo próprio Dom Martim, que em 1869 passou as funções administrativas a seu filho, Itamar Costa Vaz Guimarães (1849 - 1908), que assumiu diretamente as finanças da fazenda, mas o fidalgo nunca esteve longe da propriedade, e continuou morando na fazenda até o dia de sua morte. Em 1908, um dos netos de Dom Martim, Lúcio Fabiano Costa Guimarães (1871 - 1944) assume o controle da fazenda até 1942, e o ultimo proprietário de Guapará antes de sua dissolução e da venda da casa-sede fora o bisneto do fidalgo, Martim Lúcio Gomes Guimarães(1919 - 1966), que, mesmo vendendo partes da fazenda, manteve a produção cafeeira até a década de 60, vindo a total decadência com seu possível suicídio no ano de 1966.

Fachada Palacete
O modo de vida recluso dos Guimarães, sem grandes gastos ou extravagancias e a qualidade de seu café inspiravam confiança e longevidade em seus negócios, mas algo mudou com a entrada da década de 50. Martim Lúcio quase já não era visto, só aparecendo para fazer anúncios importantes, deixando os líderes dos funcionários cuidarem do trabalho do dia a dia, se distanciando cada vez mais da administração da fazenda. A principal hipótese para o abandono de seus afazeres como administrador, fora o acidente envolvendo sua filha, Maria Inácia Freitas Gomes Guimarães (1939 - 196?) e uma possível doença derivada desse acidente. Saiu na Tribuna do Povo em junho de 1958:

“A jovem de 19 anos, Maria Inácia Freitas Gomes Guimarães... foi encontrada as voltas da fazenda Guapará, onde mora, em meio ao cafezal, com ferimentos graves por todo corpo concomitantes com o ataque de um animal selvagem... as autoridades suspeitam que, ao adentrar as plantações de café, a jovem foi atacada por um lobo guará que tomara o local por seu território de caça... a encontraram e levaram para o físico residente no local, doutor Ignácio Guzzo...”

 A jovem fora vista poucas vezes nos anos subsequentes, sempre sentada, muito magra e com aparência doente, mas nunca fora encontrado um atestado de óbito, nunca fora feita uma cerimônia fúnebre, ou sequer um anúncio de sua morte, a garota simplesmente desapareceu. O que é fato é que no ano de 1966 seu pai, Martim Lúcio, fora encontrado morto nos aposentos de sua filha com um disparo de revolver na têmpora esquerda, o quarto não parecia estar em uso, mas estava completamente mobilhado e com todos os pertences da jovem. Após o falecimento do ultimo Guimarães, a fazenda caiu no esquecimento popular, seu território fora dividido e leiloado e a belíssima casa sede esquecida pelo tempo.

Jornal Tribuna do Povo - 5 de Junho de 1958



O Sul Fluminense

 Sul Fluminense é uma região geográfica do estado brasileiro do Rio de Janeiro, correspondente àquela área fronteiriça aos estados de São Paulo e Minas Gerais. É banhado pelo oceano Atlântico nas cidades
de Angra dos Reis e Parati.

Segundo a divisão geográfica do IBGE vigente entre 1989 e 2017, o Sul Fluminense era considerado uma mesorregião, composta pelas microrregiões de Vale do Paraíba Fluminense, Barra do Piraí e Baía da Ilha Grande. Em 2017, o IBGE extinguiu as mesorregiões e microrregiões, criando um novo quadro regional brasileiro, com novas divisões geográficas denominadas, respectivamente, regiões geográficas intermediárias e imediatas. Segundo a nova divisão, o Sul Fluminense corresponde parcialmente às regiões geográficas intermediárias de Volta Redonda-Barra Mansa e do Rio de Janeiro.

É uma região de razoável contingente populacional, com cerca de 1 milhão de habitantes de acordo com o IBGE (dados de 2010).

São componentes dessa região os seguintes municípios: Angra dos Reis, Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Paraty, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença, Três Rios e Volta Redonda.

A maior cidade desta região é Volta Redonda, com cerca de 260 000 habitantes. Política, administrativa e culturalmente a região Sul Fluminense engloba, também, o município de Vassouras.

Sua economia baseada na indústria metal-mecânica, automotiva, metalúrgica, siderúrgica, cimenteira, alimentícia e energética (usinas termoelétricas, termonucleares e hidrelétricas, nas atividades agropecuárias (destacando-se a criação de gado leiteiro), a produção de hortifrutigranjeiros e no comércio varejista.

Na cidade de Itatiaia, se localiza o Pico das Agulhas Negras no Parque Nacional do Itatiaia, que com 2.787 metros é o ponto mais alto do Estado do Rio de Janeiro. Já em Angra dos Reis fica a baía da Ilha Grande, que junto com Paraty formam a parte litorânea do Sul Fluminense entrecortada pelo Oceano Atlântico sendo repleta de praias e ilhas - somente a cidade de Angra dos Reis possui 365.

Outras atrações turísticas, que reforçam a economia da região, que por muito tempo foi influenciada pela cafeicultura, são as várias propriedades rurais na região do Médio Vale do Paraíba Fluminense, como as fazendas da época do ciclo do café, principalmente em Barra do Piraí, que hoje atraem grandes levas de turistas, na região turística do "Vale do Ciclo do Café". Outros pontos de grande atração de visitantes de outras regiões fluminenses e do Brasil são os distritos de Penedo e Maromba em Itatiaia, Visconde de Mauá em Resende, Ipiábas em Barra do Piraí e Conservatória em Valença.

O Sul Fluminense possui uma rica cultura, bem própria e distinta do resto do estado. Além de possuir os elementos comuns do povo fluminense, a região encontra-se entre o Vale do Paraíba Paulista e sul, sudoeste e Zona da Mata de Minas, possuindo, muita das vezes, as mesmas manifestações culturais destas regiões. A região forma um mesmo cinturão sociocultural com o Vale do Paraíba Paulista.

Existe na região uma presença marcante de europeus, sobretudo portugueses, italianos, finlandeses e alemães, além de japoneses e brasileiros de outras regiões, como por exemplo, mineiros, paulistas, capixabas e sulistas.

E não podemos esquecer, o Sul Fluminense é lar de mistérios insolúveis, principalmente nas redondezas da princesinha do vale, Resende, daí o seu intrépido amigo, Zaqueu Albuquerque, está aqui para desvendá-los, esse é o intuito desse blog, buscar e nos aprofundar nos mistérios que circundam a região.